segunda-feira, 6 de outubro de 2014

ROBSON TRINDADE - REI DOS CACHOS

Robson Trindade, do salão Red Door, construiu uma carreira de sucesso baseada no princípio da excelência. Defensor da técnica aliada à sustentabilidade, é hoje um dos maiores especialistas em cacheados do Brasil
Filho de cabeleireira, o hairstylist já cortava o cabelo dos amigos na adolescência. Quando começou a namorar Tânia, hoje sua esposa, descobriu que a mãe dela também tinha um salão. Apaixonados pela área de beleza, os dois decidiram se especializar. Ele como cabeleireiro, ela como esteticista e maquiadora. Trabalhando sempre juntos, desde o primeiro salão – que ficava em cima de uma padaria e, muitas vezes, se tornava um local impossível de permanecer por causa do calor – os dois conquistaram as clientes. Desde as mais antigas (como as enfermeiras do Hospital Santa Rita de Cássia, em São Paulo, vizinho ao salão, que adoravam como o cabeleireiro sabia como ninguém cuidar de seus fios crespos) até atrizes famosas.

O trabalho em conjunto com outros profissionais sempre foi um ponto importante para você?
Sim, claro. Além da Tânia, minha maior incentivadora, outras pessoas foram muito importantes no caminho até o Red Door. Meu filho Rodrigo, por exemplo, quis aprender a profissão porque tinha ciúme de um rapaz que trabalhava comigo, o Rogério. Ele era bem jovem quando veio trabalhar no salão e aprendeu tudo muito rápido. Passou a ser meu braço direito. Meu filho, achando que eu passava mais tempo com o Rogério do que com ele, também quis ser cabeleireiro. Consegui matriculá-lo na Escola Teruya, muito tradicional em São Paulo, apesar de ele ter apenas 14 anos e a escola só aceitar maiores de 18. Ele se aplicou tanto que, na formatura, o Sr. Teruya fez um discurso elogiando-o como um dos melhores alunos que já teve. Depois disso, Rodrigo teve diversas experiências internacionais e venceu concursos no Brasil e no exterior. Isso me fez pensar que, como ele, outros jovens poderiam se tornar grandes profissionais, e foi então que comecei a dar aulas e ministrar cursos.

Atuar em diferentes setores na carreira é um fator de motivação para você?
Sim. Meu filho fez cursos em vários países e, após voltar de uma temporada na Itália, sugeriu que vendêssemos nosso negócio e fôssemos trabalhar em uma rede grande. Nessa época, já tínhamos três unidades com o nome Robson & Tânia. Mas Rodrigo via na mudança um potencial maior, além da possibilidade de ajudar mais profissionais a evoluir. Daí surgiu a parceria com o Jacques Janine. Ajudei a reestruturar a área técnica de várias unidades da rede. Era um trabalho muito gratificante, porque eu levava meu conhecimento para “arrumar a casa”. Mantivemos a parceria por vários anos, até que em 2004 aluguei um imóvel na Vila Nova Conceição para abrir um novo Jacques Janine. Infelizmente não deu certo e resolvi investir num salão próprio, o Red Door.

Quando descobriu o potencial de trabalhar com cabelos cacheados?
Em uma visita à feira International Beauty Show, em Nova York, conheci um método de trabalho com fios cacheados. Fiquei dois dias em frente ao estande vendo a equipe trabalhar. Depois de muitos anos lidando com alisamentos, essa era a oportunidade de aprender algo novo. Após observar, pedi para participar de um curso com o grupo. O que faziam consistia em lavar o cabelo de forma natural para obter o enrolado ideal. A empresa era a Deva Concepts e essa técnica de cuidados com os cacheados, ao ser introduzida por nós no Brasil, tornou-se um grande sucesso.


E que diferencial você descobriu nessa técnica, ainda desconhecida no Brasil?
Entre as mulheres brasileiras, 87% têm madeixas onduladas, cacheadas, crespas ou fora de controle. E elas são muito delicadas. Tenho comparado atualmente o fio ondulado com a comida japonesa. Nessa culinária, são feitos rolinhos com a comida, certo? É como se fossem os cachinhos. Já imaginou comer aqueles rolinhos lindos e perfeitos com um garfo? Iria destruí-los. Com essa associação, percebi que quanto mais delicado eu fosse com o cabelo enrolado, melhor seria o resultado obtido. Então, cada vez mais tratamos os cacheados de maneira suave. No Red Door não usamos pente, toalha, não esfregamos as mechas, não passamos muito as mãos. A cliente não precisa se preocupar, pois o cabelo vai ficar no lugar onde ele mesmo quer.

Como alcançar essa delicadeza no trato com os cacheados?
Fiz um curso em San Diego, nos EUA, com uma pessoa excepcional, a Susanne Kende. Foi ela quem me alertou para essa associação entre cachos e comida japonesa. A partir daí, passamos a usar hashis para manipular o cabelo das clientes. Isso permite que os caracóis sejam tratados com a maior delicadeza possível e não se desmanchem. Evitamos mexer neles, mas se for preciso, usamos os hashis. Algumas pessoas acham que é frescura, mas faz toda diferença no resultado. Com Jessica McGuinty, outra profissional americana, aprendi a trocar as toalhas por estolas de tecido para secar os fios. Há dois tipos delas: as feitas de algodão, que uso nos curtos, e as de microfibra, para os cabelos compridos. A vantagem no uso dessas peças é que podem ser higienizadas apenas com água, ao contrário das toalhas, que exigem detergentes agressivos ao meio ambiente na lavagem.

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